Hoje, 10 de Dezembro, marca não só o fim dos 16 Dias de Activismo Contra a Violência de Gênero, mas também o Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Como mulheres imigrantes, a experiência nos ensinou que qualquer pessoa pode ser vítima de violência, mas certos traços que determinam a nossa identidade, tais como gênero, raça e situação imigratória, aumentam a nossa vulnerabilidade e limitam nosso acesso à serviços de ajuda.

O ambiente hostil aos imigrantes, estabelecido há mais de uma década no Reino Unido e com o objetivo de reduzir a imigração, levou milhões de pessoas a terem os seus direitos fundamentais violados. Como consequência, por exemplo, muitas mulheres imigrantes não acessam o serviço público de saúde por não conhecerem seus direitos, por não terem condições de pagar ou por medo de cair em dívidas. 

Por conta da nossa situação imigratória, também somos frequentemente impossibilitadas de trabalhar, tendo que depender economicamente de outras pessoas – o que aumenta a nossa vulnerabilidade, ou limitando acesso a somente empregos de condições precárias. É também devido a estas políticas hostis que, como vítimas de violência de gênero, muitas de nós não procuramos ajuda à polícia, por medo de compartilharem os nossos dados pessoais com o órgão imigratório, de que sejamos presas e deportadas, ou simplesmente por medo de desacreditarem de nossa história.   

Este ano, de acordo com as Nações Unidas (ONU), o tema do Dia dos Direitos Humanos é a IGUALDADE. Segundo o artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. Nós, WARMI perguntamos: todes temos os mesmos direitos, mas será que podemos exercê-los com igualdade? 

Queremos um governo que reconheça o nosso valor e os nossos direitos como seres humanos. Queremos que os nossos corpos e experiências não sejam reduzidas a estereótipos. Queremos que a nossa denúncia de abusos não seja questionada. Queremos que as vítimas não se tornem réus. Queremos melhores condições de trabalho e a possibilidade de empoderamento econômico.Queremos viver sem medo.

Temos o direito a uma vida livre de violência. Temos o direito a uma vida digna. Temos o direito de estar livres de discriminação, de ter a nossa cultura respeitada, e de poder viver livremente em família e em comunidade. Temos direitos e vamos fazê-los valer. 

Nós, WARMI criamos esta lista abaixo com o que queremos mudar na sociedade para alcançar respeito e viver uma vida segura e digna. 

  • Queremos que o governo britânico reconheça oficialmente a comunidade Latino Americana como uma minoria étnica no Reino Unido. 
  • Queremos que exista uma luta ativa contra a discriminação.
  • Queremos trabalhar em condições decentes, com salários que reconheçam os nossos esforços, e que os empregadores que não cumpram a lei sejam punidos. 
  • Queremos uma fiscalização governamental rigorosa e separada da fiscalização da imigracao às empresas, por exemplo empresas de limpeza, para garantir que estas cumpram com os direitos e a segurança das trabalhadoras. 
  • Queremos mais financiamentos para aulas de Inglês (ESOL), com disponibilidade para pessoas que trabalham em horários antissociais. 
  • Queremos que o Serviço Nacional de Saúde (NHS) forneça serviços gratuitos para todes, independente da situação imigratória.
  • Queremos melhor financiamento e acesso justo à intérpretes para que as mulheres imigrantes  possam denunciar seus perpetradores com segurança e independente da barreira da língua. 
  • Queremos que a polícia coloque nossa segurança à frente de nossa situação imigratória e não compartilhe nossos dados pessoais com o Home Office. 
  • Queremos um sistema de asilo justo e mais humano, que proteja os direitos dos refugiados, somos firmemente contra a criação do Acordo de Nacionalidade e Fronteiras o qual discrimina os requerentes de asilo de acordo com a forma como chegam ao Reino Unido. 
  • Queremos uma educação decolonial que inclua e respeite os conhecimentos indígenas e africanos. 
  •  Queremos participar do debate e das decisões sobre as leis de imigração e de proteção às mulheres.

Os direitos dos imigrantes são direitos humanos. 

O coletivo WARMI